sábado, março 25, 2006

terça-feira, março 14, 2006

O regresso do filho pródigo (ou não)


A Quem Possa Interessar,

Após muita especulação...
(Raptado por E.T.'s? Prisioneiro de Viet-Congs? Conversão num ser de energia pura e subsequente teleportação para outra galáxia? Morte excruciante às mãos de um bando de anões-de-jardim armados com podões? Exilío auto-imposto após constatação de eleição iminente de Cavaco Silva?)
...e a pedido de muitas famílias, venho por este meio informar Vossa(s) Excelência(s) que não tenho feito actualizações ao blog por uma razão prosaica e que é, ora pois bem, como se diz, não tive pachorra (ou em inglês "Ai dídante éve pachorreite").

Mas, dado que o fluxo incessante de cartas, e-mails, sms's, pedrinhas atiradas à janela e calduços no pescoço não mostra sinais de abrandar, aqui declaro solenemente que vou pôr as mãos ao trabalho e voltar a iluminar as vossas existências com alguns fragmentos luminosos da minha experiência Cambridgeense.

Impõe-se ora desde já um busílis: por onde começar? Poderia reatar as minhas crónicas em Dezembro do ano passado, o que faria decerto mais sentido dum ponto de vista sócio-histórico-politicó-cultural. Por outro lado, os mais ansiosos dentre vós (sem falar daqueles que não têm vida social) podem estar tão sedentos de novidades dos últimos tempos que correm o risco sério de simplesmente implodir caso eu escolha a primeira hipótese.

Como em tudo nesta vida, a solução passa por um compromisso. E o meu compromisso é então este: começar de fora e comer para dentro, que é como quem diz, fazer updates simultâneos no passado longínquo e no passado recente. Assim até é mais giro porque mantém-se uma certa simetria, que é muito importante caso queiramos que a nossa teoria seja renormalizável (ahah estas minhas piadas só têm melhorado com a minha estadia aqui).

E pronto, assim será. Um grande bem-haja a todos, e vemo-nos no domingo! :D

domingo, março 12, 2006

O Baile



- Ai Jesus!

Acalmem-se, acalmem-se meninas e meninos-que-pensavam-ser-uns-homenzarrões-mas-agora-confusos-quanto-à-sua-orientação-sexual. Sou apenas eu num fato. E porquê tão formal indumentária, eis que me vejo questionado de todos os lados? Porque fui a um Baile!!

- Um Baile?!

Sim, o baile bianual do meu College, o Girton Ball 2006, este ano com o tema Avalon, que é como quem diz Rei Artur.

- Explica lá isso melhor!

Está bem. Então é assim. Aqui em Cambridge o pessoal tem a mania que é fino e então organiza estes "bailes", que na realidade de baile não têm nada. Se pensam que é andar para ali a dançar a valsa com as meninas e beber cházinho com o mindinho espetado estão muito enganados! Todos os anos cada college organiza um baile, que é basicamente uma festa enorme que ocupa o college inteiro. Este bailes normalmente têm um tema, e o college é decorado a rigor de acordo com esse tema. Há salas com música para todos os gostos, actividades a pontapé, espectáculos, e comida a rodos. Só para terem uma ideia, no Trinity College houve balões de ar quente (!!) no ano passado para a malta passear (mas os tipos lá também são ricaços; o college foi fundado pelo rei Henrique VIII, aquele que gostava muito de cortar a cabeça às mulheres; reza a lenda que têm umas caves de vinho do Porto invejáveis e terrenos na ilha de Manhattan que valem o meu peso em ouro depois de comer um bitoque à Jardim).

Na véspera do baile, ou seja sexta-feira, aluguei um fato. Não foi muito caro apesar de tudo: 36€. Vi uns ao dobro por isso até acabei por ter sorte. E sim, era um fatinho jeitoso! Não pensei mais no assunto. Chega sábado, falta meia hora para começar a festa. Ora então, vamos lá vestir o fato. Tudo começou bem... as calças serviam-me (também tinha-as experimentado na véspera!). Chega a camisa. Raio dos botões são difíceis de desapertar! Mas pronto, lá consigo. Visto a dita cuja, começo a abotoar novamente. Vou por ali acima todo lançado, até que chego ao do colarinho: não dá! Não consigo apertar o maldito! É muito apertado, não entra, começo a ficar cansado (história da minha vida). Por fim consigo! O tempo está a passar, tenho de me ir embora para apanhar um táxi!! Vamos às mangas. Mais um obstáculo: 4 casinhas em cada manga e só dois botões de punho. Olha, se calhar é só para pôr nos de cima. Lá aperto aquela porcaria, mas rapidamente me apercebo que não está a ficar muito bem. Aha! Tenho de dobrar a manga! Assim já dá. Eheh Porreiro, já tenho a camisa toda apertada! Já só falta pôr o lacinho! Vou à casa de banho de laço na mão, todo feliz da vida. Olho-me ao espelho: CONSIGO VER AS LETRAS DA T-SHIRT POR BAIXO DA CAMISA!!!!!! Aaaaaargh!!!!

Após muitas atribulações, volto a repetir todo o processo, desta vez sem t-shirt. De realçar que à segunda ainda foi mais difícil pôr o raio do botão de cima, mas isso não era nada que eu não esperasse. Finalmente volto à casa de banho para pôr o laço.

Meus amigos.

Tenham sempre alguém que vos ajude a pôr o raio do laço!!!!! Era preciso enfiar uma pecinha num buraquinho minúsculo (pronto, já se estão a rir, não se pode dizer nada, isso é muita tensão sexual recalcada). Escusado dizer que como era no pescoço, eu não conseguia ver, só mesmo com o espelho. O problema é que como o espelho inverte frente com trás, para pôr aquela porcaria no sítio certo foi o cabo dos trabalhos!

Por fim consigo! Estou vestido! Toca a andar para Wolfson Court para apanhar um táxi. Chegando lá está tudo aprumadinho. Meninas com os seus vestidos, meninos com os seus fatos todos iguais alugados na mesma loja ("era o mais barato que havia!"). Acabei por ir no carro dum tipo qualquer, havia lugar para mais um. Chegamos ao college.

A pequena alameda que leva à entrada está ladeada de tochas, nos jardins os saltimbancos fazem proezas com fogo, na fachada do college um holofote projecta "Avalon". Mais terra-a-terra, espera-nos uma fila de meia-hora para entrar, meia-hora esta passada ao típico frio inglês que é como quem diz uns 3 graus. E eu só de casaquinho e camisinha! Por fim entramos, e vale a pena a espera. No átrio central lutam dois tipos de armadura. Há tendas onde é servida carne assada, marisco, massas e uma outra com uma fonte de chocolate! Uma fonte de chocolate! É verdade, e marshmallows e biscoitos para o pessoal molhar. Muiiiiiiiito bom! As salas do college estão todas decoradas, com vários temas; desde o escritório de Merlin onde houve espectáculos de stand-up, magia e jazz ao salão da Guinevere onde se arranjava o cabelo e as unhas às meninas mais deslavadas, passando pelo paraíso subaquático da senhora do lago, onde se ouvia untz untz e se tinha um bar de oxigénio (!!). Por todo o lado, bebida com fartura. No salão principal tinham-se as danças de salão, salsa, jazz; na sala de alunos tinha-se uma zona de Chill-out. No átrio secundário uma tenda com actuações de Rock ao vivo, seguidos de Dj's; uma zona de LaserQuest, que é como quem diz paint-ball mas com lasers (ganhei!!!); uma zona de patinagem no gelo (que é como quem diz plástico).

Passei a noite a correr dum lado para o outro, a ver tudo e apreciar tudo, a comer, beber, dançar e participar nas várias actividades. Até tive direito a uma massagem nas costas de 20 minutos! Mais perto do fim fomos para a "sala do trono", onde já estava tudo meio bêbado. E porquê? Um piano de cauda. Ouvi... e depois toquei. Como já estava tudo mais para lá do que para cá, não havia que ter vergonha. Quem ouviu diz que gostou, eu abstenho-me. Mas soube bem.

O baile acabou às 5 da manhã com a foto dos "Survivors", que é precisamente como o nome indica, a foto de quem aguentou até ao fim do baile. Aí foi a debandada geral, ala que se faz tarde, toca de apanhar o táxi para ir para casa. Mas fomos todos com a mesma ideia: mais uma experiência fantástica vivida aqui, para mais tarde recordar... purum!

PS.: Lamento não poder pôr fotos do baile em si, mas como só tirei com o telemóvel e estava tudo escuro ficaram todas uma bela treta. Aliás, isso explica porquê o belo cenário atrás de mim: foi a única sala que arranjei suficientemente clara para tirar uma foto! Assim que arranjar fotos doutras pessoas eu posto-as!