quinta-feira, setembro 29, 2005

Cambridge



6.30 da manhã estava a pé. Não consegui dormir como deve ser, suponho que estranhei a cama. Deram-me uma almofada que mais parece um penso higiénico em ponto grande, de modo que tive de aplicar os meus dotes de engenheiro e fiz uma para mim: duas tolhas enroladas metidas numa fronha! Vagueei pela cama mais algum tempo. Ainda era cedo para ir tomar o pequeno-almoço. Por volta das 8h levantei-me e saí à aventura. O dia estava lindo! Um sol radioso a dar-me as boas-vindas no meu primeiro dia em Cambridge.

O meu quarto é razoavelmente grande. Maior do que qualquer um que alguma vez tenha tido! Não me falta nada, a não ser uma cómoda para pôr a roupa que só virá no final de Outubro (ainda dizem que os ingleses são pontuais). Tenho uma janela grande que dá para o quintal e onde por entre as árvores vislumbro o céu. Umas vezes claro, outras vezes encoberto, hoje radiante! Aqui em casa somos sete homens. Eu, um coreano, um escocês e o resto não sei bem, penso que é tudo inglês. Não se socializa muito aqui em casa, dou-me mais com o escocês. Temos 3 casas de banho e uma cozinha grande. Tenho direito ao meu próprio armáriozinho e a um cantinho no frigorífico. Duas vezes por semana vêm as mulheres limpar a casa, mas não entram nos quartos. Deixo o baldezinho do lixo à porta do quarto e elas deitam fora. Cá dentro tenho de limpar eu.



Saí de casa e dirigi-me a Wolfson Court, o centro dos graduados. Foram uns 20 minutos a pé, durante os quais pode apreciar as casinhas tipicamente inglesas.À porta uma enxurrada de bicicletas. Aqui em Cambridge muita gente usa uma como o seu meio primário de transporte. Neste centro temos cantina, alojamento para muitos (eu já fui tarde), lavandaria, sala comum, biblioteca, sala de computadores, etc. Chegando lá tomei o meu primeiro pequeno-almoço inglês - ovos, bacon, salsicha e um croissantzinho com manteiga.


Já melhor de um lado parti à aventura por Cambridge. É uma cidade linda. Os colleges são todos fabulosos, há alguns com mais de 700 anos. Há jardins, estátuas, igrejas monumentais. Nas traseiras dos colleges estendem-se prados verdes onde pastam vacas e vagueiam patos. No centro da cidade há um mercado onde comprei o meu gorro oficial da Universidade de Cambridge. Estava frio!
Por todo o lado viam-se turistas e estudantes. Cambridge é uma cidade vibrante mas ao mesmo tempo antiga, e impõe um certo respeito.


Ao fim de 3 horas a andar, fez-se horas de voltar a Wolfson Court para ir almoçar: carne assada! Em seguida o primeiro contacto com os graduados - fomos todos conhecer melhor o sítio, guiados por um dos representantes do MCR - Middle Combination Room - basicamente a associação de estudantes graduados do meu College. Vimos a biblioteca, o bar, a sala dos computadores e as instalações dos estudantes sortudos que conseguiram lá ficar (a minha candidatura já foi tarde...). Conheci algumas pessoas nesta voltinha, incluindo um escocês que vive em minha casa! Ainda não o tinha visto!




Após tratar de algumas burocracias e receber uns envelopes com papelada, fui a caminho da cidade novamente, desta vez para comprar a minha capa. É precisa para ir aos eventos oficiais, como jantares formais, fotografia de curso, etc. Fui com o escocês, e fomos trocando impressões. O rapaz até é porreiro! Passou um ano na Austrália quando tinha 17 anos, de modo que já está habituado a estas andanças. Só aqui o saloio é que não foi a lado nenhum! Comprámos a capa (50 libras=75€) e fomos às compras no Sainsbury's, o minipreço cá do sítio. Pão, queijo, cereais, leite, bananas e alguma louça. A primeira de muitas visitas!

Cheguei a casa exausto. O meu jantar foi uma sandes, já não tinha forças para ir a Wolfson Court. Depois de distrair-me um bocadinho no PC estava pronto para dormir - eram 21.30! No dia a seguir não tinha nada marcado, de modo que podia descansar em paz...

quarta-feira, setembro 28, 2005

Dia 1: a Partida

6.45 da manhã começa o telemóvel a apitar. Lá vamos nós à aventura!

No aeroporto da portela encontrámo-nos eu, os outros 4 portugueses que foram comigo: João (Ju), Jorge (Max), Ricardo (Herói) e Marta (loiraça) e respectivas famelgas. Após as difíceis despedidas (Guiziiiiiinha my love!), lá nos metemos no avião. A viagem correu sem sobressaltos: um bocadinho de turbulência, uma baguete de frango muito manhosa (e cara!) e o primeiro contacto com carradas de "bifes"!

Tendo desembarcado e recolhido as malas, lá fomos comprar os bilhetes para o autocarro que nos levaria numa odisseia de quase 4 horas até "caimbridge". Antes disso ainda tive a felicidade de comer mais uma sandes manhosa: não é que os gajos metem pickles no meio das sandes mistas?! Ainda tivemos de esperar uns 30 minutos até que chegasse o raio do autobutes. Lá se vai a pontualidade britânica! Outra ponto cómico foi a forma como eu, cheio de jeitinho, dei a minha mala ao condutor, e o sacana agarra naquela merde como se fosse o homem do lixo e atira-a para a bagageira.. Enfim!

A viagem passou bem. O pior foi a ansiedade de ver toda a gente a andar em contramão, mas lá nos habituamos! Esta zona de Inglaterra é muito verdinha, húmida, e PLANA. A vegetação é diferente bem como os pássaros. Vêem-se muitos corvos por aqui! Cambridge é uma cidade linda, e falarei dela mais tarde. Chegados à estação de autocarro, fomos recebidos por um chinês (acho), pertencente à associação cristã "International Students Welcome". Basicamente deu-me um livrinho com umas informações gerais e com o programa de actividades deles, e ofereceu-se para que alguém fosse à minha casa ver se eu me estava a dar bem. Ainda pensei em perguntar se havia alguma jeitosa, mas depois lembrei-me da Guida e disse "no thank you".

Os meus colegas tiveram de passar a noite num hotel, e por isso separámo-nos aí. Meti-me num Táxi e pedi-lhe "Can you take me to Wolfson Court on Clarkson Road please?", o sítio onde fui buscar a chave de casa. Chegado lá, deixei o táxi à minha espera, levantei a chave e fui para casa. Vivo numa vivendazinha com mais 6 gajos (embora na altura fôssemos menos). Somos muitos eu sei, mas temos uma cozinha grande e 3 casas de banho. Até agora não me queixo!

Depois de desembrulhar umas coisinhas, fui dar uma volta à cidade, já que a fome era negra! Após muito procurar acabei por me decidir em comer algo que reconhecia: uma pizzazinha havaiana. À saída fui saudado pela primeira chuva inglesa. Lá apanhei uma boa molha até casa. Após todas estas aventuras estava cansado e fui dormir, cheio de saudades de todos, mas feliz por ter chegado tão longe!

Não percam na próxima posta:

A minha casa
Como é Cambridge

Abraço a todos!

segunda-feira, setembro 19, 2005

Prólogo

Tan tan tan taaaraaaaaan, tan tan tan taaan ran ran ta ran ran tatatata TARAAAN (música do National Geographic)

Esta fotografia capta um exemplar raro da espécie Physicus Cromus em pleno acto de ruminação pós-almoço. Segue-se um breve relato dos pensamentos que assaltavam este belo espécimen no momento da nossa intrusão fotográfica:

"Xiiii! Não sabia que faziam biquinis assim tão pequenos! Aaah.. as alegrias da Costa da Caparica.. O pior vai ser agora quando fôr para Cambridge, que não há nada que se assemelhe a mar num raio de 70 km. Ai ai ai a minha vida, estou tão triste, tão triste! Mas olha, paciência, ao menos vejo-me livre de todas estas melgas que a única coisa que me sabem perguntar é

"Então quando é que vais? Então vais quando? Já estás de malas feitas?"

Como se não bastasse só me quererem ver pelas costas, fazem a mesma pergunta 10^2 vezes... (nota do autor: Note-se como a evolução levou a que este animal até já pense em notação científica) ..'Tou p'ra ver como vai ser quando lá chegar. Já estou a imaginar. Ligo o MSN e lá vêm eles:

"Então Migas! Tás bom? Como é a vida por aí? Já tens fotos novas?"

É tudo muito bonito, todos muito amiguinhos, o problema é quando começar a explicar a mesma coisa 10^3 vezes. Depois passo mais tempo no raio da net do que a estudar, chumbo, sou extraditado de volta para Portugal, e quando chegar ainda vou ter de os ouvir mais 5*10^1 vezes:

"Então Migas! Enterraste-te à grande foi? Epá que cena! Conta lá como foi isso!"

De tanto repetir a mesma história deprimente acabo por ficar com tendências suicidas e acaba-se a minha vida! Tenho de fazer qualquer coisa senão estou tramado! Hmm...

(nota do autor: Neste ponto deu-se uma paragem no fluir do pensamento do espécimen para o que se presume ser o processamento de dados no cérebro do animal. Dado que este foi programado pela selecção natural apenas para fazer coisas tão úteis como calcular séries de Taylor até à 35ª ordem, a ordem de grandeza do tempo roçou os 10^5 segundos, perdão, os cem mil segundos. Nessa altura o espécimen levantou-se da rocha e disse:

"Epá, estou a ficar com fome"

tendo-se deslocado de seguida ao MacDonalds mais próximo. No entanto, os nossos observadores, correndo perigo de vida, conseguiram descobrir algumas pistas sobre a solução achada pelo animal para resolver o seu problema. Ao que parece, dado que o problema consistia na necessidade de repetir o mesmo por várias vezes (o que compreensivelmente se tornaria cansativo), o animalzinho terá decidido recorrer a um "Blogue" (sic), que os seus amigos e familiares poderão consultar para ficarem devidamente informados sobre as suas últimas aventuras.

E assim termina mais um National Geographic, espero que tenham podido compreender um pouco melhor a vida e as motivações escondidas dessa espécie rara, o Physicus Cromus! Um bem haja, e até breve!