terça-feira, agosto 18, 2009

Contas ou a vida dum doutorando em Física




Teoricamente, fazer Física devia ser assim.

Passar os nossos dias a passear por bosques a meditar sobre as questões mais profundas: o que é o espaço, o que é o tempo, como foi criado o Universo, de que é feito tudo, etc etc. A meio da tarde sentar-se à volta dum café (ou carioca de limão dos GRANDES), e discutir com os colegas, inventar teorias, redefinir a nossa visão do mundo. Isto tudo em cenários idílicos, com ribeirinhos, edifícios em mármore, e longe do bulício, das multidões, do barulho.

Na prática, não é nada disto claro. O pão-nosso de cada dia dum doutorando em física teórica é estar ou perdido numa resma de folhas de papel atafulhada com contas parciais e gatafunhos, ou agarrado ao ecrã dum PC (ou Mac para os finórios) a fazer aquelas contas que à mão não são possíveis porque demorariam anos, fechado num gabinete muitas vezes sem janelas e que até pode cheirar mal. Até pode ser que cheire mal por culpa dos ocupantes mas isso não vem ao caso.
E o cúmulo é que muitas vezes nem percebemos por que é que estamos a fazer as ditas contas (para além de "foi o meu orientador que disse").

Ser doutorando é passar uma tarde inteira a tentar perceber um único parágrafo dum artigo. É estar dois dias à espera que o computador acabe os cálculos para nos apercebermos que afinal temos que fazer tudo de novo porque nos esquecemos de multiplicar qualquer coisa por um factor dois. É estar consciente de que somos como crianças a chapinhar nas poças que ficam na areia quando a maré vaza, quando ali, apenas metros à nossa frente, há um oceano inteiro de conhecimentos que nunca conseguiremos atingir (como bom Almadense, tinha de fazer uma metáfora de praia).

Gostava que houvesse uma pequena moral para este relato. Mas não há. A realidade é que fazer física é um trabalho como qualquer outro, com momentos bons e maus, onde é preciso esforço, perseverança e mesmo casmurrice para atingir resultados e chegar a algum lado.

1 comentário:

Sergio disse...

e tudo isso para depois chegar uma conclusão que nenhum dos comuns mortais percebe ;)